Anoreg/PR apresenta a história de Júlia Wanderley: a primeira professora do Paraná

Anoreg/PR apresenta a história de Júlia Wanderley: a primeira professora do Paraná

O percurso profissional da notável docente teve fundamental importância para aquela e futuras gerações de mulheres na educação

Mais de 100 anos se passaram desde o seu falecimento, mas o legado que a professora da Escola Normal do Paraná deixou continua intacto. Seja nas paredes da escola que leva seu nome ou pelas estátuas espalhadas pela cidade de Curitiba, os ensinamentos de força e coragem da mulher à frente de seu tempo seguem nos dias atuais. Esta é Júlia Wanderley, a primeira professora do Paraná.

Iniciando o projeto especial sobre personagens paranaenses, a Associação dos Notários e Registradores do Paraná (Anoreg/PR) conta a história da notável docente e traz detalhes do seu óbito, que completa 104 anos em abril deste ano. O registro, extraído do documento lavrado no dia 6 de abril de 1918, foi feito em 12 de agosto de 1974 no 1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Naturais de Curitiba, Cartório localizado no centro da capital, instalado em 31 de março de 1876.

Filha de Affonso Guilhermino Wanderley e de dona Laurinda de Souza Wanderley, ambos paranaenses, Júlia também foi casada com o gaúcho Frederico Petriche, de cujo matrimônio não deixou filhos. Tendo como declarante Pedro Falce, que apresentou atestado firmado pelo doutor Victor do Amaral, consta na certidão a causa da morte como sendo “neoplasma pelviano”, termo técnico para câncer na região pélvica. A professora faleceu aos 45 anos de idade, no dia 5 de abril de 1918, em Curitiba. O sepultamento foi realizado no Cemitério Municipal.

Segundo a professora Silvete Aparecida Crippa de Araujo, autora de uma tese de doutorado na área da Educação sobre Júlia Wanderley, a personagem foi uma defensora da institucionalização mais ampliada da instrução pública primária e secundária no estado do Paraná. “Instrução que ela e seus pares defendiam, que deveria chegar até as classes populares”.

Para compreender a trajetória histórica de Júlia, é necessário contextualizar o cenário em que a professora viveu, no período datado entre o final do século XIX e início do XX, em que “a cidade de Curitiba e o Paraná passavam por sensíveis mudanças econômicas e sociais, as quais eram responsáveis pelo crescimento urbano e pela diversificação populacional”, explica Silvete.

O titular do 1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Naturais de Curitiba, Ricardo Augusto de Leão, comenta sobre a importância dos registros cartorários na manutenção da história local. “A importância dos documentos nestes casos é a de registrar, para a eternidade, um acontecimento histórico, como nos livros, para que as histórias possam ser contadas”. O documento permanece em versão original na unidade.

O início da história 

Júlia Augusta de Souza Wanderley nasceu em Ponta Grossa (PR), em 26 de agosto de 1874, e mudou-se para Curitiba em 1879. Foi na capital paranaense que passou a maior parte da vida. Em 1891, Júlia fez um pedido ao governo estadual para que pudesse cursar a Escola Normal, atitude que reverberou em pleno século XIX, já que mulheres não frequentavam as escolas. Esse fato trouxe consigo uma importante conquista, não só para Júlia, mas para todas as mulheres, já que para conseguir autorização, a condição era de que não fosse a única mulher na instituição.

“Ela também defendeu e concretizou a feminização do magistério no Paraná”, afirma Silvete. “Essa notável mulher e professora concorreu para a efetivação de uma educação mais abrangente no Paraná, tanto para a classe social menos favorecida economicamente, como valorizando a educação da mulher”, conclui.

Júlia Wanderley lecionou por 25 anos, escreveu sobre educação, pedagogia, ciências e as questões sociais, além de colaborar com o jornal da época “Operário Livre”, com artigos sobre os mais variados temas. Também foi nomeada membro do Conselho Superior do Ensino Primário e diretora da Escola Intermediária de Curitiba.

Julia faleceu no dia 5 de abril de 1918, em Curitiba, aos 45 anos de idade. Em 1927, em frente à Universidade Federal do Paraná, foi inaugurada uma estátua em sua homenagem, sendo, também, a primeira mulher paranaense a receber este tipo de honra. “Ela é inspiradora e merece muito ser lembrada pela mulher corajosa e inteligente que foi”, ressalta a historiadora Larissa Guedes Busnardo, que realizou um trabalho de pesquisa inspirado na coleção fotográfica da primeira professora do estado.

Memórias 

O diretor do Patrimônio Cultural da Fundação Cultural de Curitiba, Marcelo Saldanha Sutil, destaca a importância dos documentos históricos para que estejam registradas e preservadas as memórias e construções da sociedade. “Os documentos guardam referências, informações, vestígios que permitem que cada grupo neles identifique sua história e memória ou que possa, por meio deles, construir a informação que necessita.”

A Fundação Cultural de Curitiba, por meio dos acervos, administra os documentos e informações identificados com datas e personagens e também por meio de transcrições, que são indexadas e passam por processo de higienização e armazenamento. “Ao mesmo tempo, e conforme a disponibilidade, são digitalizados para posterior pesquisa (preservando o original) e consulta via online. São documentos oriundos de doações, aquisições e pesquisas da equipe da Instituição”, ressalta o diretor.

Segundo Silvete de Araujo, Júlia Wanderley foi tida, na época, como uma mulher moderna, professora e diretora escolar competente, atenta às inovações, inclusive técnicas e científicas de seu tempo. “Uma mulher determinada a lutar pela causa da educação de todos, tendo como fim uma sociedade melhor e mais humana, deixando um legado de amor a instrução popular e crença na educação como instrumento de mudança e melhoria tanto individual como social”.

 

Fonte: Assessoria de Comunicação – Anoreg/PR