A imposição de nomes a todos os entes é indispensável ao pensamento humano e a sua expressão; equivale a dizer que a atribuição de nomes responde à natureza racional e social do homem: sem eles não são possíveis o conhecimento intelectual, a manifestação e a comunicação humanos: nomen (nome) é o mesmo que notamen (meio de designação), disse S.Isidoro, nas Etimologias, porque, com sua indicação nominal (nomen scieris), permite conheçamos as coisas (cognitio rerum perit). E porque usa os nomes –fala-os e escuta-os–, de modo inteligente, vê-se nisso que o homem se diferencia do animal bruto (cf. Valenzuela, Las atividades del lenguage).
Assim, nesse primeiro e amplo sentido, o vocábulo nome entende-se a designação que se assina a cada uma das coisas, potencial ou em ato, material ou imaterial, aos animais, às pessoas, às realidades e aos entes de razão; em síntese: a tudo enfim.
Ainda que os nomes sejam significantes com algum caráter convencional, sua história revela que, rotineiramente, não são arbitrários, e o ideal é que possam os nomina expressar a essência da coisa significada (seu numen). Por isso, a definição é o melhor modo dos nomes e o primeiro lugar comum para os discursos: saber que coisa o nome significa (quod significatur per nomen).
Já mesmo à abertura do livro do Gênesis (2, 19-20), diz-se que Yahvé fez desfilar perante Adão todos os animais do campo e todas as aves dos céus, para ver como os chamava, e assim passaram a denominar-se (ipsum est nomen eius); e também a primeira mulher foi nomeada por Adão (Virago, quoniam de viro sumpta est -Gên. 2, 23).
Lembremo-nos de que, antes da frustrada tentativa de construção da torre de Babel, houve uma linguagem universal; também nos tempos modernos John Wilkins esboçou-se uma universal language, para vincular cada coisa a um só nome, cada nome a uma só coisa: assim o fez em An Essay towards a Real Character and a Philosophical Language, publicado em 1668, propondo um sistema em que a integralidade das coisas e conceitos sofreriam, em sua denominação, inúmeras divisões sucessivas, como de um gênero a um singular, de tal modo que as letras se iriam adicionando para a completa individualização de cada uma das coisas (veja-se, a propósito, o interessante ensaio de Jorge Luis Borges, El idioma analítico de John Wilkins). Seria essa linguagem analítica útil para evitar a equivocidade dos termos: p.ex., remédio e veneno eram, no grego arcaico, designados pelo mesmo nome pharmakon (farmakon).
Também a períodos históricos se dão nomes, nem sempre os mais apropriados, mas, enfim, designações necessárias: Antiguidade, Idade média, Idade moderna, disse Ernst Robert Curtius, em seu excelente Literatura europeia e idade média latina, são nomes, é verdade que pouco apropriados, mas, de toda a sorte, indispensáveis para a compreensão prática. Fala-se ainda em civilização europeia, mas, com todo rigor, Europa é antes um nome geográfico, seu território abrange uma civilização contra-europeia (a da Hispanidade) e, culturalmente, pode dizer-se que haja Europa fora da Europa.
Há, contudo, nomes pessoais que significam com muita propriedade os singulares que designam: Cam, filho de Noé, teve quatro filhos: Chus –de que descendem os etíopes–, Mesraim –de que provêm os egípcios–, Phuth –de que derivam os líbios– e Canaã, de que descendem os primeiros habitantes da Palestina. Pois bem, um dos filhos de Chus, Nemrod –ou robusto caçador ante o Senhor, caçador de homens e povos–, tem o sentido nominal de rebelião: Nemrod é o mesmo que rebelemo-nos; foi ele, provavelmente, quem dirigiu a construção da torre de Babel (cf. Álvaro Calderón, El reino de Dios, p. 204). O nome de outro filho de Noé, Jafet, significa “o que estende longe”, e sua história confirma-lhe o nome: bastaria considerar a dilatação espacial dos filhos de Jafet: de seu filho Gomer provieram os celtas; as raças germano-eslavas, de Magog; os medos, de Madai; os jônios e helenos em geral, de Javan; os povos do sul do Cáucaso, de Tubal: os muski (de onde vem Moscou), de Mosoc ou Meseque; os trácios, de Tiras (cf. Calderón).
De Deus mesmo quis saber-se o nome. Yahvé (Jeová, Jehová) é um tetragrámaton hebreu (um nome de quatro letras no idioma hebraico: יהוה); esse ou bonum dizem alguns serem os nomes mais próprios de Deus. Todavia, em algum cabalismo, dá-se a crença no plano místico do alfabeto hebreu, e então os nomes de Deus seriam 72, além de outros dez, os sefirot, referentes aos atributos de Deus (ou aos anjos que representam esses atributos: os sefirot são os nomes com os quais Deus se chamaria a si próprio, segundo a cabala: vidē o estudo de Julio Meinvielle, De la cábala al progresismo, Buenos Aires, 1994).
Numa acepção mais estreita, o termo nome diz respeito à designação de pessoas, tanto físicas, quanto jurídicas, estendendo-se a diversas situações, desde os nomes civis e comerciais, os de batismo, os pseudônimos (nomes de guerra), os nomes de fantasia, os de família, os prenomes (nomes próprios), os cognomes, os agnomes, os nomes literários, os vulgares e, agora, os nomes sociais de livre escolha.
(Prosseguiremos).