Causa (conclusão)

Já referimos, nas exposições anteriores, o conceito de causa e, entre suas divisões possíveis, uma que muito parece importar, entre causas intrínsecas (causa material e causa formal) e causas extrínsecas (causa eficiente e causa final).

Agora, sempre de maneira concisa, haveremos de distinguir entre a causa, a condição e a ocasião, três espécies de princípios do ser. Ficou dito que a causa é um princípio sem o qual não pode uma coisa existir (sine quo esse non potest -S.Tomás, S.th., III, q. 86, 6); é o princípio real de um ente (Casaubón); é o princípio que influi real e positivamente em uma coisa, fazendo-a sua dependente (Millán Puelles); aquilo pelo qual uma coisa se realiza (Jolivet). 

Mas nem todo princípio é causa. Além da causa, são princípios dos entes a condição e a ocasião. 

Distingue-se, de um lado, a causa, e, de outro, a condição −ou mais exatamente, a condição necessária−, em que esta última, embora seja indispensável para a produção de um efeito, não tem influência sobre esse efeito. Consideremos um exemplo: se queremos escrever manualmente um texto num pedaço de papel, temos necessidade de uma caneta ou de um lápis, também necessitamos do papel −aqueles, são causa instrumental (ou seja, causa eficiente secundária do meu escrito), o papel, sua causa material; mas acontece que, se não houver luz, se não houver luminosidade bastante, nós não podemos escrever; a luz, entretanto, embora seja um elemento indispensável para nossa escrita, não é causa dela, mas uma simples sua condição; a luz não influi no escrito, apenas permite que nós escrevamos.

Prosseguindo: suponhamos um céu estrelado, numa noite em que não nos cerquem as luzes artificiais; pomo-nos a ressonar na alma alguns sinais de sensibilidade; arriscamos a enunciar algumas linhas poéticas. Pois bem: esse quadro dá-nos uma ocasião, é dizer, uma oportunidade propícia para versos, mas não só essa ocasião não influi no efeito (não nos torna um Luís de Camões), senão que sequer condiciona esse efeito. Lembremo-nos aqui da antiga teoria de Enrico Ferri, para que, ao fundo, a escuridão seria a causa dos furtos; não, não é sua causa, mas é uma sua ocasião favorável.

Para encerrar, duas palavrinhas sobre uma divisão da causa eficiente. Essa causa é aquilo pelo qual uma coisa se produz; é a causa extrínseca por virtude de cuja ação real se passa do não ser ao ser (devir, devenir); é, pois, o princípio de ação do movimento. Tem-se, entretanto, um duplo modo de eficiência: o da causa eficiente (por ação) e o da simples resultância ou emanação (causa emanante). Distinguem-se ambos esses modos em que entre a causa eficiente e o efeito há duas coisas: a ação e a potência; ao passo em que a causa emanante opera sem médio, i.e., não há nenhum elemento intercalando o efeito e a causa (ex.: a essência da alma é causa emanante da inteligência; a inteligência, por sua vez, é causa emanante da vontade e do sentido interno da cogitativa).

Basta isto.