Consciência do Notário e Consciência do Registrador (parte 24)

Encerrando este capítulo relativo à formação da consciência moral do notário e do registrador público, ou, mais exatamente, ultimando o excurso referente à educação da consciência dos que se preparam para as atividades do notariado e dos registros públicos −em resumo, de maneira principal, os concursantes−, tratemos de esboçar um roteiro próprio a seu exame de consciência, valendo-nos aqui, ainda uma vez, das sugestões de Antonio Royo Marín.

O concursante ainda não é notário, nem registrador, mas se prepara sê-lo, e isto o situa num ambiente vital singular, em que sua primeira preocupação deve ser a de indagar se a sua natureza concreta parece moldar-se o futuro projetado exercício profissional das notas e dos registros. O que se deve perguntar, pois, é sobre a própria vocação? Ser notário, ser registrador, é algo que lhe atrai a inteligência? Saber que deverá dedicar-se ao estudo, à obtenção da ciência jurídica exigível para o exercício dessas funções é algo almejado ou, ao revés, algo que lhe repugna o ânimo?

Em seguida, suposto reconhecida a vocação, deve indagar-se o concursante se se prepara adequadamente para as provas. Ordenou adequadamente as matérias a estudar? Ou, diversamente, não as ordenou ou ainda se lançou, de maneira caótica, a estudos excessivos −é o que Royo chama de "luxúria intelectual"− ou a estudos apequenados, reduzidos por preguiça?

Estabeleceu uma disciplina para os estudos: horário, matérias, lugar? 

Tem perseverança ao estudar? Nos momentos de desânimo, tratou de recorrer à paciência? Recorreu à oração? Buscou a direção de alguém mais experienciado?

Manteve a observância de seus deveres de estado? Nada, com efeito, legitima que, para preparar-se na ciência, o concursante abandone a satisfação de tantos seus deveres, como o sejam não só os profissionais, mas os familiares, os de amizade e, de modo eminente, os deveres religiosos.

Nunca nos esqueçamos de que a profissão é importante, mas não é ela nossa finalidade última, nem os ganhos materiais −importantes embora para o sustento das necessidades da vida− ou as honrarias o fim de nossa natureza. 

Lembremo-nos, ao fim, da humildade. Muitas vezes, em nossos estudos, reconhecemos em nossa alma um ritmo sinuoso −parece que descemos os degraus, em vez de ascendermos na virtude intelectual da ciência. É o tempo em que mais devemos admitir nossas debilidades, a fraqueza de todos nós, e abrirmos a alma para receber as luzes necessárias ao conhecimento da verdade. S.Tomás foi um exemplo vívido dessa humildade; ele reconhecia que mais havia aprendido na oração do que na leitura dos livros.